segunda-feira, 13 de julho de 2009

“Este povo não pode acreditar em nenhum partido”


Por Ângelo Macarius

.Glauber, talvez cineasta que melhor representava a “estética da fome”, era um gênio que fazia da falta de recursos sua aliada.Entedia o Brasil como gerador de signos, uma vez que a miscigenação nos faz como eu gosto de dizer, "portadores do dna do desassossego".Na cena final de “terra em transe" por exemplo, a montagem caótica e carnavalesca tem seu ápice na coroação de um político das décadas finais do século passado, como detentor de um cetro de monarca absoluto, mas que lembra bem um rei momo, traduzindo assim a intenção do cineasta.Criar um registro antropológico, social e histórico de um período de um Brasil por muitos já esquecido e por outros não vivido , em paralelo com nossa condição de latinos colonizados. Tendo passado o referido período, é importante salientar que as relações políticas no novo milênio, continuam a invalidar o povo e as classes, negligenciando o papel que os foi dado pelo povo e pelas classes, locupletando apenas os dirigentes políticos , burocratizando todo e qualquer processo legal ou não que possa vir a beneficiar o coletivo.O filme se utiliza de uma linguagem metafórica , um retrato do janguismo, do subdesenvolvimento, do colonialismo, que acaba se tornando espelho de todo nosso continente sulista, aonde espelhos não parecem refletir quem somos, latinos americanos que por vezes se pretendem nortistas.Glauber analisa a questão do proletariado com um ceticismo impar, busca arquetipicos, respostas para os conflitos políticos de 64, para falecia do janguismo, para o golpe de estado de 64, para um país "fictício" aonde o discurso político se faz mas importantes do que a solucionatica social do país, criticando impiedosamente direita e esquerda.Glauber denuncia a inabilidade da esquerda em articular com o povo, matando qualquer possibilidade de revolução popular, por outro lado evidencia o desinteresse de um povo faminto em se armar sem força para apertar o gatilho, contrariando assim as expectativas de outros paises latinos de que a revolução popular atingiria ápice no Brasil. Tenta encontrar as raízes da mítica do “Populismo“ e do “patriarcalismo’’, mitos esses até hoje operantes em nossa sociedade. É um retrato metafórico de nossa complexidade social , um filme que merece ser visto com um olhar analítico de quem pretende entender suas raízes e sua condição de cidadão tanto no que toca o cidadão como individuo , quanto no que tange as mais profundas imagens psicológicas de uma nação impar. Acredito em Glauber e tenho por ele toda deferência, uma vez que encontrei no mesmo a máxima com a qual mas me identifiquei como artista:”E´função do artista violentar”.Pena que a grande maioria de nós, artistas brasileiros nos encontremos hoje sufocados por um modelo vulgar, ocioso, que se preocupa apenas em arrastar as massas fazer delas animais de rebanho conformados com o pão e circo...É o óbito de qualquer possibilidade de revolução cultural.Me dói muito ,teria doido mas em Glauber.espero que possamos ainda reverter esse quadro.








                                      A MODERNA TORRE DE BABEL


                                               Por Ângelo Macarius.




          Na visão de Marchall Mcluhan, a principal conseqüência do advento dos meios de comunicação em massa, seria a de reduzir o planeta a uma aldeia global.Tendo eleito a televisão como principal instrumento de legitimação de sua teoria, Mcluhan não viveu o suficiente para vê-la tomar corpo com a chegada da internet e a telefonia celular.Não acredito na literalidade do conceito do sociólogo, uma vez que é incontável a quantidade de “pajés” e “chefes guerreiros” ditando as regras dessa aldeia, mas não deixo de levar em conta que Mcluhan foi muito sensível em sua proposta ,pois ,subtraindo o fato de que as relações em aldeia se dão por interação física de individuo para individuo, podemos dizer que a internet, a telefonia celular e a televisão se não homogeneizou, aproximou as culturas, criou possibilidades de interação em tempo real entre pessoas residentes em continentes distantes.Talvez no momento em que vivemos seria mas assertivo dizer que o mundo caminha para o mercado, industria e governo global, oque torna o planeta fértil para a concretização total do conceito do sociólogo. “Uma rede mundial de ordenadores tornara acessível, em alguns minutos,toda uma gama de informações aos estudantes do mundo inteiro”. Marchall Mcluhan disse isso a mas de duas décadas, e, passado todo esse tempo podemos dizer que foi ele um visionário.Segundo Macluhan, antes do surgimento da t.v., vivíamos na galáxia de Gutenberg.As informações e o processo de aprendizado se davam mediante leitura, processo que levava a maior introspecção do que nos dias atuais.Mcluhan era um critico ferrenho do modelo tradicional de educação,e propunha um modelo lúdico, acreditava que o processo deveria ser divertido.Em seu conceito de aldeia global, mcluhan afirma que a tecnologia passaria de coadjuvante a parte integrante das relações sociais, configurando um mundo semelhante a uma aldeia global .


Farei um breve resumo de “Babel”, filme de Alejandro Gonsales e em seguida tentarei encontrar referencias a teoria de Marchal no intuito de responder a seguinte pergunta:

       O cinema anima a aldeia global?

  Esse resumo não tem pretensão de colocar as seqüências na ordem em que são tratadas na obra, visto que a edição não e´ linear. Babel tem inicio em uma remota região desértica do Marrocos, aonde um pastor de cabras que responde pela alcunha de Abdullah, compra um rifle de um conterrâneo com uma caixa de munição, com intenção de defender o rebanho de chacais, Abdullah confia o rifle aos seus dois filhos adolescentes para que vigiem o rebanho.Em dado momento, os dois discutem a respeito do alcance do armamento e resolvem tirar a duvida atirando contra um ônibus de turismo que passa numa distancia considerável em relação ao ponto da colina aonde se encontra os irmãos.O tiro alcança o ônibus ferindo gravemente uma turista dos estados unidos chamada Sara Jones, que se encontra com seu marido Richard Jones em viagem de férias.O ônibus para e os irmão se dão conta do sucesso do teste e partem em fuga deixando o rifle no local.A partir daí a confusão é grande.Esse fato cria um efeito em cadeia na vida de personagens aonde uns tem ou tiveram alguma relação e outros nunca nem mesmo se viram.


     Prossigamos. Telejornais japoneses, marroquinos e estadunidenses afirmam tratar se de um ato terrorista, porem a noticia no Marrocos é tratada como um ato de bandidismo vulgar.Na trama, Jones e Anwar( guia turístico) chegam a um consenso de que seria impossível levar sara a um hospital em tempo hábil, e decidem ir até a vila de Anwar e de lá pedir socorro a uma ambulância.As negociações diplomáticas atrasam o socorro, Sara é assistida por um veterinário e por uma senhora até que um helicóptero é enviado para o resgate.Susan vai para casa com vida.Numa bela seqüência relacionada a essa parte da trama, a senhora oferece um fumo ( acredito ter sido algum opiáceo ou o próprio ópio) a Susan, o que a tranqüiliza e minimiza a dor enquanto a senhora passa as mãos no cabelo de Sara.É uma cena sensível.Não se entende nenhuma palavra pronunciada pela senhora enquanto a mesma expressa sua afetiva solidariede a Susan.É uma metáfora visual sobre a possibilidade de podermos um dia, todos nos que fazemos parte da raça humana,convivermos com nossas diferenças. É uma cena que leva a reflexão a respeito de como eventos trágicos podem despir as pessoas de preconceitos, afinal já dizia Caetano, “de perto ninguém é normal”, e,acima de tudo, a generalizarão sempre nos impede de enxergar o quanto cada ser humano é único, e que a violência, o fanatismo e fundamentalismo não são manifestações de uma cultura x ou y, e sim tendências quase universais, reforçadas pela política e religião, com a diferença de que em cultura x , se promove a democracia e o discurso persuade a se fazer uma “escolha”, e , em cultura y , o discurso se impõe em defesa de uma “verdade”. Com relação a historia de Sara, gostaria também de pontuar a constante tensão dos turistas americanos no período de convalescença de Sara, constantemente temerários, oque não é pra menos, pois a obra pontua com maestria a maneira como a noticia norte americana aborda essas questões, colocando- as sempre a favor dos interesses estúpidos daqueles que governam os E.U.A, taxando fatos isolados de atos terroristas no intuito de conseguir apoio popular para uma corrida armamentista que visa tão somente, os lucros de sua própria industria bélica e a hegemonia em pro de relações internacionais que garantam a estabilidade econômica no tocante a industria petrolífera.


  Voltemos o olhar para outro enredo, aquele dos adolescentes marroquinos.O governo americano na insistência de se tratar de um ato terrorista pressiona o governo marroquino para que encontrem os responsáveis.Os policiais marroquinos encontram o homem que vendeu o rifle e que atende pelo nome de Hassan, que toma dura reprimenda em seu interrogatório.Exaurido pela violência, Hassan confessa ter vendido o rifle, dizendo a policia que o armamento foi presente de Yasujiro Wataya, um riquíssimo japonês que tem como rob a caça.Os garotos, ao perceberem a presença da policia nas redondezas, contam ao pai o ocorrido, acreditando que o disparo teria matado Sara.O trio formado por pai e filhos que se vai levando o rifle, acaba por ser encurralado em uma encosta rochosa aonde a policia abre fogo.Quando o irmão é atingido, o autor do disparo que acertou Sara reage, acertando policiais.O garoto acaba por se render e implora por socorro medico para o irmão e complacência para com sua família.As imagens da historia dos irmãos marroquinos coloca diante de nossos olhos um universo carente do lúdico, da informatização e do acesso ao conhecimento.O menino que dispara contra o ônibus é taciturno, compenetrado, parece ter alguma intimidade com a cultura bélica mulçumana, mas percebe se também uma certa rebeldia com relação aos valores que condenam a exposição do corpo feminino, ao passo que seu irmão(visivelmente mas velho) parece ser mas obediente a “lei” e chega a ameaçar o outro de denuncia aos pais ao pegar o atirador espiando uma menina.O mas velho parece invejar as habilidades do irmão.O deserto marroquino é um ambiente aonde o conceito de Marchal se aplicaria timidamente.É como um fóssil jamais descoberto pela arqueologia.Em dado momento da trama dos Jones, o personagem utiliza o único telefone da vila para tentar contatar a embaixada americana.Definitivamente, o Marrocos de Abidullah e Anmar, não e´o Marrocos só para inglês (leia-se turista) ver.


    Vamos agora argumentar sobre a trama que se passa na casa dos Jones na ausência do casal. Devido ao incidente ocorrido a Susan, Jones instrui Amélia a ficar por mas tempo do que o previsto junto aos gêmeos do casal.Acontece que isso implicaria na ausência de Amélia no casório do filho, e a baba decide levar os filhos dos Jones a celebração nas imediações de Tijuana.Tendo arrumado uma carona com o sobrinho Santiago, Amélia parte com as crianças para o casamento de sua prole, levando consigo as crianças californianas.O choque cultural é eminente, tendo em vista o passional despojamento latino dos mexicanos.No retorno aos E.U.A., Santiago se tumultua com a abordagem dos guardas da fronteira e sai em fuga com a tia e as crianças no carro.Tomado pela neurose, Santiago abandona a tia e as criança em área desértica, dizendo retornar para busca-los.Já dia, tendo passado horas da partida de Santiago, Amélia busca desesperadamente por socorro, pedindo para as crianças que esperem no ponto de sua ´partida.Sem mas alternativas, Amélia pede ajuda a policia que a prende.Amélia implora a policia que a leve para encontrar as crianças e tem seu pedido negado.Os policias partem em operação de busca, mas não encontram as crianças.Amélia é transportada para uma delegacia da fronteira aonde é informada que as crianças foram encontradas e que Jones embora chateado não vai processá-la e que já que a babá não portava visto de permanência, seria deportada. Há uma cena na historia de Amélia, aonde Jones comunica a necessidade de seus serviços de baba das crianças por mas tempo, pedindo que cancele o casamento de seu filho afirmando que pagara um casamento melhor.Outra passagem que me causou emoção, foi quando o pequeno Jones, filho do casal de gêmeos dos Jones, indaga Amélia a respeito do irmão morto ainda recém nascido.Amélia diz que o pequeno feto se encontra no céu.Me ocorreu que os Jones talvez não tiveram tempo ou condição emocional de abordar o assunto com os filhos,Mas oque mas me impressionou no enredo, foi a semelhança de comportamento festivo dos periféricos mexicanos com os brasileiros, principalmente no tocante a postura quase infante de Santiago.Quando Santiago abate uma galinha arrancando o pescoço da “penosa” com a mão, o menino californiano dos Jones o olha chocado como quem não sabe(e provavelmente não sabia) que os animais são abatidos e dão origem ao empanado , e que a carne não é um produto criado por magia em uma fabrica.Haja “cartoon”.A festa de casamento do filho de Amélia é parecidíssima com as nossas(suburbanas e periféricas ) , aonde casais dançam colados e um musico toca sanfona.Mas o ápice da comoção se dá quando Amélia e´ informada da decisão do governo estadunidense de deporta-la.Ela pergunta pelas crianças e a resposta do agente da lei e´, “Isso não lhe diz respeito”.,Amélia argumenta cuidar das crianças dez de que nasceram, serve-lhes as principais refeições e etc...mas o estado dos “Ninos“ não é da alçada de Amélia.


   A ultima trama que abordaremos se passa no Japão, e tem como eixo o conflitos de Cheiko Wataia, adolescente Japonesa filha de Yasujiro Wataia.Cheiko e´surda, vive ressentida com o suicídio recente da mãe e nutre um sentimento de inadequação por causa de sua deficiência física.Cheiko tem problemas com sua sexualidade, tenta arduamente seduzir o sexo oposto.Cheiko é procurada por Detetives que investigam a procedência do rifle que acertou Sara e se interessa por um deles, tentando seduzi lo.Por fim, um dos policiais consegue interrogar Yasujiro informalmente e descobre que a informação marroquina procede.O enredo de Cheyko é cheio de imagens referentes a surdez, coloca a frente dos olhos do espectador um Japão colorido e cheio de vontade de ser ocidente.



Respondendo a pergunta





   No filme Babel, o telefone celular e a telejornal roubam constantemente a cena, corroborando em sua trama com as idéias de Mcluhan.Porem, tenho que propor um argumento em cima da seguinte pergunta.Países de cultura milenar, como a Índia nacionalista, que mesmo com os esforços de Ghandi para a abolição do sistema de castas, se posicionariam a favor de um governo único? Fiz tal pergunta para levar nos a reflexão de que conceitos morais e éticos mudam de acordo com a geografia.Acredito que o hibridismo cultural é passivo de escolha, uma vez que alguns ocidentais desejem ser orientais e vice e versa, mas há aqueles que defendem arduamente suas tradições e referencias históricas.Em Babel temos uma situação que promove uma ligação de desconhecidos mediante as relações dos MDM.O cinema, avô da T.V, promove sim, troca cultural, uma vez que o protagonista de “Caçador de pipas” sonhava em ser o herói de bang bang que via na tela do cinema.Lembro de um menino ocidental que amava Speed Racer, Ali Baba  Simbá o marujo, cresceu, fez parte do movimento da consciência de Krishna, tornou-se meditador orientalista, reikiano e que senta em postura de lótus e come de palitinho.O cinema o inspirou junto com a literatura, o menino extasiou-se quando leu Sidarta de Herman Hesse, até hoje chora quando assiste o Hair, e decidiu batizar o filho com o nome de Sidarta, porque o pequeno Buda foi o primeiro filme que viu junto com a mãe de seu filho.Em Babel se vê claramente o elo que a mídia cria entre os paises no tocante a informação.Mas o menino do qual falava antes , também ama a macumba(sarava seu Zé Pelintra), o bumba meu boi, Torquato Neto, Glauber Rocha, Pagu, a Tropicália, a festa de São Raimundo nonato e arquitetura neoclássica de Teresina, terra de seus pais.O nome do menino é Ângelo Macarius,(é sempre mas fácil falar de mim mesmo) e ele torce para que o conceito de aldeia global se estenda, criando não só uma cultura que possibilite escolhas hibidas, mas que torne as utopias anarquistas e ambientalistas ( meio de vida de mínimo impacto ambiental ) em realidades palpáveis, aonde se valorize o respeito pelas diferenças, para que possamos experimentar o sonho de vivermos uma só nação , uma só tribo ou aldeia!



  O que é claro para mim , é que são desperdiçadas toneladas de alimento por dia , em um planeta que produz o suficiente para 8 bilhões de pessoas.Oque é claro para mim , é que estamos caminhando para uma situação insustentável no tocante ao meio ambiente.A aldeia indígena respeita o meio ambiente , se sente parte dele e felizmente , não conhece o mito de adão e eva.A aldeia indígena toma para si apenas aquilo de que necessita, não há fome ou desperdício.Tomando a aldeia indígena como referencia , sinto dizer que estamos distantes de uma aldeia.É só ler a carta do cacique Siatlle , ta tudo lá , todo o alerta de um sábio que construiu sua sabedoria observando a natureza.Espero que a coisa tome um corpo maior do que esse que se restringe aos MDM...Torço.Sem mas delongas , estamos em um momento ápice de evolução tecnológica , mas se não começarmos já a enxergar alternativas para nosso modelo de consumo e de relação social , a “torre” vai cair de novo.




Sobre a Luz

Por Ângelo Macarius


Lucifer por Franz von Stuck



                                                 1922


  A sombra passou pela escadaria...Em outra cena a luz se reflete em um figurino escuro...Um careca se levanta de forma misteriosa de um caixão, há luz, mas o figurino de tão taciturna e terrível figura não reflete a luz...Uma senhorita de vestes claras e cabelos escuros levanta assustada e de sobressalto...A locação não reflete a luz...E no momento em que aquela figura sobrenatural fita a câmera como se reivindica se um espaço no intimo do espectador, se deu uma ponte de total identificação.O monstro era o espelho...o espelho trouxe alguma coisa submersa a tona ... Terminada mas uma seção de Nosferatu de Murnau.Eu não estava lá, isso foi só um devaneio, tomei a liberdade de imaginar como seria para o homem daqueles tempos uma seção cinematográfica a cerca do mito da tediosa imortalidade do vampiro.
  O Sol não nasce...essa impressão é apenas resultado do movimento que por força das leis da física não percebemos.É a sombra do próprio planeta que enxergamos quando dizemos que a lua é nascente.A sombra é produto da luz...É uma questão tão obvia que seguramente pode causar estranhamento quando figura em um texto do século em que vivemos, mas para o homem primitivo as coisas não funcionavam bem assim.O homem primitivo tinha o Sol, a Lua, astros e estrelas como deuses,deusas e etc. A afirmação da dualidade da natureza que se dá pelo contraste dia e noite, era percebida pelo homem antigo de outra maneira...Na antiguidade, as culturas agrárias reverenciavam o Sol como símbolo Maximo de divindade, eram culturas que valorizavam a belicosidade, a conquista e a divisão de territórios e as culturas que se dedicavam a caça, cultuavam a lua.Aqueles que cultuavam o Sol eram de inclinação marcial e bélica, e os que cultuavam a lua eram de inclinação sensorial e matriarcal.Percebe se claramente a predominância do positivo(másculo , solar , vigoroso, combativo) por parte dos agricultores, e do negativo (feminino, sensorial, intuitivo e umido)por parte dos caçadores.Hoje, distante do tempo em que os “ancestrais históricos” de tais culturas declararam que o divino estava visível no céu, chamamos o Sol, Lua, estrelas e planetas de Astros, corpos celestes e etc.A ciência trouxe o racional a “luz” e hoje encaramos as divindades depostas como objetos que se encontram no céu a obedecer leis mecânicas.A dualidade é um imperativo na historia da humanidade.Assim o é com a imagem.Tenho aqui em minhas mãos uma reprodução em impresso de um quadro de Caravaggio que data de 1602, intitulado São Matheus, aonde não figura planeta algum, e sim, um anjo, o mediador entre aquilo que vemos e oque não vemos, e embora o jogo de luz e sombra não privilegie nenhum mas que o outro, o Anjo encontra se enrolado em um tecido de extrema alvura, e uma aureola se insinua ao redor da cabeça do Santo.Justo no ano em que Kleper publicava sua defesa da astrologia, nada podemos encontrar de referente aos planetas que não seja a semelhança do anjo com algumas representações de Heros, filho de Afrodite (vênus) e amante de psique...E é para pisique que devemos voltar os olhos agora para podermos continuar esse pequeno ensaio sobre a questão da Luz no cinema.Não podemos jámas sermos crédulos como a geração de nossos avós, mas não há como nos vermos livres das imagens sugeridas por esses anos de historia e “estória”...Os signos, símbolos, arquétipos e etc, estão entranhados na psique coletiva a nível inconsciente.Aqui reside mas um fator dicotômico que gostaria de salientar.Por mas que o dr.Freud fosse antagônico a hipótese de inconsciente coletivo de Jung, a grande maioria dos complexos e funções catalogados por Freud, foram batizados com nomes de mitos ou de personagens da literatura clássica...Complexo de Édipo, de Eletra, de Peter Pan, de Sinderela, Eros, Psique...Parece haver ai uma concordância mesmo que “inconsciente” de que o mito é uma verdade psicológica auto gerada e constantemente reciclada de acordo com as exigências do tempo.Nosferatu é um filme que não goza da tecnologia que temos hoje.Falemos um pouco de Lavoura Arcaica de Luiz Fernando Carvalho, considerado um marco da retomada.A cena de abertura é escura, o quarto é escuro, e a falta de iluminação reflete uma profunda solidão e inclinação ao isolamento.Nas cenas que retratam a infância do personagem, há claridade...os tempos eram outros e ricos em atribuições domesticas, tudo é bom e parece seguir o fluxo da natureza, aquele desejo proibido ainda não veio a luz, ainda não se evidenciou, ainda não se afirmou como produto da sombra...Há um contraste evidente entre luz e escuridão que se presta ao conflito intimo da personagem e ao conflito do mesmo com os padrões morais.Como Freud já dizia, “A essência dá sociedade é a repressão do individuo.A essência do individuo é a repressão de si .”

  Em dado momento ainda nos primeiros minutos do filme, o irmão mas velho diz que as venezianas estão fechadas. Quando o protagonista abre a janela, a luz invade o ambiente, o titulo invade a tela, o quarto se torna mas iluminado e o fio condutor da historia se revela.Há de se lançar luz em um assunto obscuro nessa “versão ao avesso da parábola do filho pródigo”. Mas a luz embora mas abundante do que a principio, continua tímida, os rostos e o ambiente sujeitos a sombra e hora sim hora não se enxerga o tremeluzir de uma vela.É quase o mesmo efeito dos momentos que retratam a homilia do patriarca, aonde a Luz é menos tímida, mas o ambiente continua escuro, oque não acontece nas cenas domesticas de dia, mas a iluminação nesses momentos sempre cria a impressão de que a luz é natural, de que não há eletricidade naquele local, tanto é que no momento em que a família se reúne, temos o lampião a figurar como a fonte de iluminação.Quando retornamos ao quarto de pensão, a metade do rosto do personagem está tomado pela escuridão enquanto ele declara que a claridade do lar paterno passou a perturbá-lo.Aquele individuo procurava mergulhar em sua própria sombra afim de chegar a alguma resolução, afim de encontrar alguma luz que fosse alternativa. Percebesse ali como em diversos momentos da projeção uma relação entre a iluminação do ambiente e o conflito psicológico do filho pródigo.

“...E era no bosque atrais da casa....De baixo das arvores mas altas que compunham com o Sol... o jogo alegre e suave de sombra e luz ..."

 

  O of oriundo do romance homônimo dá Tonica a cena que abre com um passeio da câmera pelo local absolutamente campestre onde se dará uma festa.A luz diurna nos parece tão natural que quase pode se sentir a sombra das arvores.Andre está sentado a sombra de uma arvore enquanto a festa acontece e se põe a contemplar a irmã, objeto de seu desejo.Ana veste um vestido alvo que reflete a luz.Dança angelical e sensualmente. A bela Ana dança e vez ou outra olha para André.André permanece fora da festa a observar, tendo seu conflito velado aos presentes, procura umedecer os pés, aplacar o calor do corpo, da alma, dali de onde estava, presente mas distante da tradição. O vestido de Ana reflete a luz e o jovem André permanece no escuro, aquilo que deveria permanecer oculto queimava lhe as entranhas, perturbava a conciencia.A beleza e a sensualidade da irmã, abriu - lhe horrenda chaga.

  A paleta econômica, quase isenta de corres vibrantes, os tons cinzas, azulados, verdes e pagãos, comunicando se com a luz que escapa de entre as brechas das copas de arvores imponentes e seculares... aquela luz ruralista e agrária.
O filme intenta em que instinto, razão, tradição, ruptura, rebeldia e autoridade, dialoguem por todo tempo de projeção.Nesse filme em particular , a luz se presta ao nosso testemunho do conflito moral , social e familiar de André e Ana , a tragédia incestuosa e quase edipiana , que cumina na seqüência final aonde Ana dança como Salome desejosa da cabeça de são João já que o corpo do santo não lhe era permitido.Ao perigo de desejos que deveriam permanecer inconfessos, em tornar visível, o que comumente não se vê! O “jogo de luz e sombra” quer refletir o jogo de luz e sombra do mundo intimo de André e Ana.




quinta-feira, 9 de julho de 2009

hino a pã...só pra constar...


HINO A PÃ
(de Mestre Therion *)
Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!

9=0

9=0
"fazer do inalcansavel o unico caminho.Do impronuciavel , unico nome digno de pronuncia.Do silencio , um dialogo.Da profundidade escura do ser , Luz.Do inexplicavel , a suprema experiencia.Do vazio sagrado , um preencher.São esses os meus objetivos vocacionais.O resto é passatempo."Tilopa Mercurio.